História da Glaúcia
Ser professor neste país nunca foi tarefa fácil. Décadas atrás, propagou-se na sociedade que a escola é a segunda casa do aluno, transferindo-se para esse estabelecimento de ensino não só a responsabilidade pelo aprendizado, mas também pela formação e educação do cidadão.
Mas como carregar esse pesado fardo num país em que os professores são mal remunerados e muitas vezes não lhes são dadas condições dignas de trabalho?
Realmente, só possuindo muita vocação e muito amor pela profissão. E esses dois atributos a professora Gláucia Auxiliadora de Oliveira Moraes tinha de sobra.
Gláucia sempre foi uma aluna exemplar. Estudou na Escola Estadual Fernando Leite de Campos e cursou o Magistério no Colégio Couto Magalhães, ambos em Várzea Grande.
Já na época do Magistério, destacava-se entre as colegas, mas foi no curso de Letras com habilitação em Português e Inglês pela Universidade Federal de Mato Grosso que ela descobriu o amor pela Língua Portuguesa e a vocação para transmitir o conhecimento.
Gláucia mal tinha acabado de se formar e foi chamada para dar aula no Colégio Couto Magalhães. Trabalhou lá apenas um mês, pois, em 1989, com apenas 21 anos de idade, foi convidada para integrar o quadro de professores do Colégio Salesiano São Gonçalo.
Por ser um dos colégios mais tradicionais de Mato Grosso, onde estudava a nata da sociedade cuiabana, Gláucia sabia que a responsabilidade era grande, porém nunca teve medo de desafios e sabia que era capaz.
Lá, deu aulas de Língua Inglesa e de Literatura, mas foi ensinando Língua Portuguesa que ela se consagrou uma das professoras mais respeitadas em sua área.
Além do Colégio Salesiano São Gonçalo, Gláucia ministrou aulas nos Centros Universitários UNIRONDON e UNIVAG, sempre atendendo a convites. A sua postura profissional e competência eram o seu melhor currículo e a propaganda do seu trabalho.
Também era muito requisitada para dar aulas particulares. Muitos foram os casos de alunos com notas baixas, quase reprovados, que procuravam o seu auxílio extra-classe e conseguiam recuperar as notas, livrando-se da reprovação. Os pais, aliviados, ficavam imensamente agradecidos pela ajuda.
Para dar o melhor de si, constantemente procurava aprimorar os seus conhecimentos. Fez curso de especialização em produção de textos, entre outros cursos.
Só no Colégio Salesiano São Gonçalo foram 21 anos de serviços prestados e não há, em toda sua trajetória, nenhum fato ou conduta que manche seu histórico profissional.
Mesmo sendo requisitada pelos melhores estabelecimentos de ensino de Cuiabá, Gláucia queria realizar um desejo antigo, que nunca saiu do seu coração. Sempre teve vontade de transmitir seus conhecimentos para alunos de escola pública. Por vezes, ouvimos comentários dela de que sua missão ainda não estava completa, pois queria contribuir também para o aprendizado de estudantes mais humildes, que não tinham acesso a um ensino de qualidade. “Não quero dar aulas apenas para alunos que têm o privilégio de estudar em uma escola particular e, em sua maioria, não precisam se preocupar com problemas financeiros. Quero dar aula para o aluno que vê na educação uma saída, sua única chance para melhorar de vida”, dizia.
E como sempre foi determinada, alcançou seu objetivo. Em 2007, passou no concurso para o cargo de professora da Educação Básica do Estado de Mato Grosso. Mantendo sua postura coerente, trabalhava na escola pública com a mesma garra e dedicação dispensadas à escola particular. Não fazia diferenciação. Para ela, todos eram iguais e mereciam a mesma atenção.
Ninguém melhor do que o próprio aluno para avaliar a competência de um professor. Nesses anos, milhares de alunos tiveram o privilégio de desfrutar dos ensinamentos de Gláucia. Quantos passaram no vestibular, estão hoje exercendo suas profissões e voltaram para agradecer-lhe, para dizer que ela também teve parte no sucesso deles.
Era querida pelos estudantes. Todos elogiavam sua didática, sua forma de ensinar. Testemunhamos diversas demonstrações de carinho e consideração pelo seu trabalho nesses anos.
Os estudantes sentiam que ela ensinava com paixão e com dedicação. Muitos a procuravam para dizer que aprenderam a gostar de Língua Portuguesa depois que estudaram com ela e que a matéria parecia mais compreensível com suas explicações.
E era esse reconhecimento, saber que estava sendo útil, que lhe dava forças para procurar fazer o melhor.
Todos reconhecem a rotina estressante de um professor. A extensa jornada de trabalho, tendo em vista que para aumentar a renda tem de trabalhar em 02 ou 03 turnos, as pilhas de provas para corrigir nos finais de semana e a falta de tempo para se dedicar a outras atividades e à família.
Tem de ser herói. E Gláucia foi heroína.
Em todos esses anos, dedicou-se integralmente à profissão. Nunca tirou licença para tratamento de saúde, embora os médicos dissessem que precisava, pois não queria se afastar da escola para não prejudicar os alunos.
Em suas três gravidezes, trabalhou incansavelmente até o final das gestações, subindo e descendo as escadas do colégio salesiano.
Sem exageros, podemos dizer que, de certo modo, acabou negligenciando os cuidados com a sua saúde, consigo mesma, pelo bem dos alunos e para o bom andamento do trabalho.
Sempre foi muito responsável. Tanto é que foi realizar uma cirurgia de urgência, deixando seu trabalho todo em dia. Antes de ir para o hospital, entregou seus diários, não deixou nada pendente. Até essa preocupação ela teve.
Triste constatar que essa conduta irretocável é uma exceção hoje no meio educacional. Muitos fazem da educação apenas um meio de sobrevivência, relegando a segundo plano a sua missão de ensinar.
Gláucia marcou a história da educação porque professores existem aos montes, mas os verdadeiros educadores, aqueles que realmente têm vocação e prazer em ensinar são poucos e Gláucia fez parte desse grupo seleto.
Presenciamos momentos em que ela chegava em casa entristecida, chateada, lamentando que um ou outro aluno não prestou atenção em sua aula. Ficávamos bobos de ver a preocupação dela e falávamos a ela que fizesse seu trabalho e pronto, sem se desgastar.
Mas ela não pensava assim. Queria que os alunos realmente aprendessem. Não dava aulas somente para garantir o seu sustento, mas com a finalidade maior de contribuir para a construção de uma sociedade melhor. Ela acreditava verdadeiramente no poder de transformação que a educação tem.
Vale ainda ressaltar que, mesmo muito atarefada com a preparação das aulas e elaboração e correção das provas, sobrando-lhe pouco tempo para outras atividades, Gláucia era uma mulher de fé e nunca deixou de lado a sua religiosidade. Possuía intensa atuação na paróquia de sua cidade.
Seu lado cristão não se restringia às suas poucas horas de folga, pois, sempre que possível, procurava levar aos seus alunos a palavra de Deus, preocupando-se também com a formação deles. Os estudantes sentiam essa energia boa em suas aulas.
Como boa professora salesiana e mulher cristã, procurou sempre propagar o exemplo de São João Bosco - patrono dos salesianos e conhecido como educador da juventude - pautando sua profissão com um de seus maiores ensinamentos: “Educação é coisa do coração”.
Gláucia faleceu no dia 21 de novembro de 2010, encerrando com esmero sua missão aqui na Terra. Seu velório, acompanhado por aproximadamente 4000 pessoas, entre familiares, amigos, colegas de trabalho, alunos, ex-alunos e até por pais de alunos, que fizeram questão de dar um último adeus a ela, somente confirmou seu prestígio e o quanto foi querida e respeitada.
Sem desmerecer os bons profissionais, acreditamos que, se um terço dos professores desse país possuíssem vocação e conduta semelhantes a da professora Gláucia, o mundo seria melhor.
São por esses e outros motivos que acreditamos que a trajetória profissional da eterna professora Gláucia deve ser reconhecida, para que sirva de exemplo aos professores de hoje e aos que pretendem ingressar na profissão.
DEPOIMENTOS DE ALUNOS
Eternamente...
Nem sei por onde começar!
Não tenho palavras para descrever todos os momentos que vivi perto da Professora Gláucia! Fui aluno dela por duas oportunidades (na quinta série e no segundo ano). Uma mensagem aqui não é o bastante para descrever tudo... Desde domingo me recordo de um fato novo, de um relato para contar! Ela sempre deixará saudades, pois aprendi muito com ela!
Posso dizer sem dúvidas alguma... a melhor professora de gramática! Cada aula era diferente...
Mas, não estou aqui para dizer que ela era uma professora excelente... Isso pelo fato que todos já sabem... Mas, sim, porque eu a conheci há muito tempo... Ia com ela e com Pinta (Benedito) para a escola... E era muito bom ir com eles para o CSSG... Isso em 1996! Um par perfeito! Posso dizer que foram feitos um para o outro! Natanna e Natália eram pequenas ainda...
Era uma alegria só ir com eles para o CSG... Pinta ainda nem trabalhava no CSG... e a professora Gláucia tinha uma lanchonete no centro de VG... Eu ia direto lá comprar os doces e bombons que ela fazia lá... Era na praça Aquidabam.... Lembro-me como se fosse hoje...
25/11/10 Rafael Godoy
A BIBLIOTECA DA ESCOLA VANIL STABILITO RECEBE O NOME DA PROFª GLAÚCIA
EM HOMENAGEM À DEDICAÇÃO E AMOR COM QUE GLAÚCIA DEMONSTROU A TODOS DESTA INSTITUIÇÃO DE ENSINO.
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